ESCRITOS

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O Afinador de Silêncios

[tento, a todo custo, escrever sem chopin; mas essas vozes são como ruídos em uma sinfonia]. 

O CAFÉ estava vazio. O barulho das xícaras era quase inexistente. Os funcionários se refugiavam na cozinha. Eu lia o jornal, atônito com as notícias do dia. Terror em toda a parte. O meu café - quase sem açúcar - era quase tão amargo como o dia.  

Mais adiante, numa mesa próxima à janela, um homem tomava um cappuccino. Dono de uma bigode longo, se esforçava para não ter os fios manchados pelo chocolate. Olhava para a janela, como se estivesse num sonho. Seus olhos eram vazios. Não lia o jornal. Não reparava nas pessoas. Apenas olhava para uma infinitude, olhava para um não-sei-o-quê que parecia transcender tudo ao redor. 

Foquei bem em seus olhos que pareciam lacrimejar. Tentei ler mais uma coluna, mas uma notícia, mais uma desgraça - em vão. 

O homem atrás do bigode tinha alguma coisa para além de tudo o que eu conhecia. Olhava fixamente para um ponto longe de nós.  

Levantou-se, de súbito. Foi embora. 

Silêncio.

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