ESCRITOS

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Apologia à Direita

As manifestações se acalmaram. O gigante está quase tirando um cochilo. Talvez seja um momento de reflexão para, depois de uma soneca, ele voltar com todo o seu furor, com mais força, e fazer aquela borrasca. Depois da tempestade sempre vem a bonança, para que depois a tempestade volte. Algumas manifestações ainda aparecem, aqui e acolá, difusas, sobre assuntos desconexos. Às vezes nos permitimos o pecado da reflexão e até começamos a achar que se manifestar é a nova moda, o novo vício do momento, o mainstream. Como se tivéssemos descoberto o calcanhar de aquiles dos governantes. Se não nos policiarmos e continuarmos a insistir no pecado da reflexão poderemos chegar a conclusão de que, talvez, bem de leve, paire entre nossos compatriotas a crença de que a democracia será feita nas ruas, por meio da ameaça de parar avenidas e afins, sem passar pela democracia representativa. Vivemos uma crise de representação, o poder público há muito nos virou as costas, o que faz uma parte da população ojerizar a representatividade. Mas isso é assunto já muito explorado. 

Como eu disse, o assunto do parágrafo acima já foi muito explorado. Que me perdoem os leitores pela introdução enganosa. O que me leva a escrever é outra coisa, ainda no âmbito das manifestações, só que de forma muito mais específica. Como o título do texto já diz, trata-se de uma apologia à direita. Sim, a nossa sucateada direita brasileira. Tadinha dela. Eu, frequentador assíduo das redes sociais, sou daqueles que leem os comentários para ter alguma noção do que passa na cabeça das outras pessoas. Porém, não sou do seleto grupo dos apedeutas que discutem como se soubessem a verdade sobre tudo. Atrás de um computador todo mundo é gênio. Eu apenas observo. E destas observações constatei, além de muitos xingamentos e burrices, uma certa corrupção das palavras relacionadas com "direita". Direta, conservador e reacionário viraram, praticamente, o capeta. Viraram sinônimo de intransigência, ditadura, Marco Feliciano, ou qualquer outra coisa que as pessoas odeiem. Era comum achar nos comentários a palavra "direita" sendo usada onde facilmente caberia a palavra "intransigência". Falar que alguém é de direita é pior do que xingar a mãe.

Que o termo independe dos "sinônimos" citados acima, é fato. Mas de quem seria a culpa da corrupção do termo? Seria dos anos de ditadura vividos por nosso povo que, por algum maniqueísmo inerente a todos os seres humanos, logo relaciona a esquerda como o oposto? A culpa seria de alguns religiosos polemistas que insistem em alfinetar as minorias representadas por um deputado homossexual de esquerda e que, talvez por isso, tais religiosos sejam logo relacionados com a direita? Eu não sei. Sei apenas de uma coisa: essas pessoas caíram na triste falácia de Mino Carta. Sim, Mino Carta, o senhor da Carta Capital que em uma entrevista afirma, seguindo um raciocínio esquisito, que a direita é sinônimo de tudo o que é ditadura, e que a esquerda é sinônimo de tudo o que é democrático e livre. Se nos aprofundarmos nessa lógica esquisita poderemos concluir que Cuba é um regime de direita. 

Dizer que a direita, a nossa tão sucateada direita, é a personificação de tudo o que há de abjeto na raça humana é uma afronta, um desrespeito. Além, é claro, de ser falta de sofisticação. É a nossa velha mania de procurar algum responsável para as nossas maldades naturais. Procurar alguma ideologia que seja a grande responsável por tudo de ruim que há no mundo. Quando, na verdade, sabemos que o demônio e o anjo está em nós. Dizer que a direita é - por erro conceitual - intransigente, é desrespeitar intelectuais da mais boa estirpe como Rodrigo Constantino, João Pereira Coutinho e Luiz Felipe Pondé. Esquerda e direita, dentro de um ambiente democrático, são como arroz e feijão. São namorados que brigam mas se amam. O seu debate perene é o que mantém vivo esse fio tênue a que chamamos democracia. Independente do seu lado, nós precisamos dos dois. E se algum dia um dos espectros vencer e eliminar completamente o outro eu posso afirmar com toda a convicção e veemência que os únicos perdedores seremos nós.


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