ESCRITOS

domingo, 24 de janeiro de 2016

Desamor

Eu não serei tua lembrança. Serei teu esquecimento. 


Quando estiveres a beber com os amigos, será de mim que você não lembrará. Quando a festa de pijamas estiver a acontecer, com as amigas, meu nome não estará na sua boca. 

Serei a palavra não dita. A poesia não-escrita. O verso que não ficou engasgado na garganta. Serei a promessa do choro que jamais se cumprirá. 

Eu serei a brisa que não te acariciou. 

Eu conheço mulheres como você. Elas sempre estiveram por perto. A me chatear. A me usar. Descartar. Serei a companhia antes da companhia de fato aparecer. 

Serei o bom sujeito que você irá tratar mal. Aquele pobre diabo que quer o seu bem e, por isso, serei o pobre diabo que você descarregará toda a sua revolta com os homens. 

Sou a vítima perfeita para uma algoz em fúria. Sou o bom homem que ninguém quer ter ao lado. 

Sou o ser sempre passível de críticas: sério demais, roupas sociais demais, ternos demais, cafés demais. 

E, do lado de cá, eu digo: compreensão de menos. 

Serei o poeta sem musa. O depressivo sem noite. O confidente sem voz e ouvidos. 

Serei aquele sujeito que não estará nas suas memórias. O não-amor da infância. Serei aquela foto esquecida na mudança. Sim, aquela na caixa de sapatos escondida no fundo da sapateira. 

Serei um nome entre tantos outros. Entretanto, serei o nome que não constará em sua lista de convidados. Eu fiz muito por você. A bondade sempre é vista com olhos cor de noite.  

Serei o antagonista dos seus sonhos. O coadjuvante sem papel. A promessa não cumprida. 

E, às vezes, quando penso em mim [e não em você], chego à conclusão: que seja. 

Mulheres que fazem gastronomia me atraem. Advogadas, não.

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