ESCRITOS

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Espero Alguém

Espero alguém que se irrite comigo quando eu me entristecer e que diga palavras de carinho quando eu me afligir. 

Espero alguém que me ouça quando eu falar demais, e que sorria com o meu ânimo ao falar do último filme que eu vi ou do último livro que eu li. 

E que esse sorriso venha acompanhado de pequenos pés-de-galinha no canto dos olhos - esses pequenos sinais são a maior prova de ternura que um olhar feminino pode oferecer.  

Espero alguém que não solte a minha mão, mesmo quando ela estiver soada. E que segure a minha mão com firmeza, mesmo quando a firmeza for a minha última perda. 

Espero alguém que pergunte do meu dia e que ouça com atenção os detalhes e se sinta feliz com a minha felicidade.  

Espero alguém cuja maturidade me faça ser um homem melhor, cujo pensamento me inspire a pensar e cuja conduta me ensine a valorizar. 

Espero alguém cuja bondade me faça lembrar da bondade de Deus. 


Espero - do verbo esperançar, ressalte-se - alguém que queira viajar para a Europa comigo, mesmo que eu não saiba metade dos países do continente.  

Espero alguém que queira conquistar a vida ao meu lado, que partilhe os sonhos comigo e que fique ao meu lado nas trincheiras da batalha - para conquistarmos as vitórias e dividirmos as derrotas. 

Espero alguém que faça o meu coração bater como nunca jamais bateu - que me faça, finalmente, entender o significado da palavra "amor"; mesmo que ela não tenha significação, mas existência. 

Espero alguém que anseie por amor, que ouça as poesias que decoro para falar no seu ouvido e que não ria pateticamente dos meus ares patéticos - mas que entenda que o romantismo é patético, e é este o seu charme. 

Espero alguém que entenda a minha natureza e não me julgue nem tente me modificar aos moldes de outros sujeitos. Espero alguém que entenda o significado da palavra singularidade. 

Espero alguém que queira cozinhar ao meu lado, mesmo que eu não saiba fritar um ovo - o destino, às vezes, nos presenteia com a ignorância para que possamos aprender ao lado de quem amamos. 

Espero alguém que frequente o teatro, o concerto musical e o cinema ao meu lado - e que faça isso se sentindo uma verdadeira dama ao lado de um cavalheiro. 

Espero alguém que tenha pressa de mim. Alguém que tenha saudade e não tenha medo de confessar. Espero alguém que tenha sofrido. Espero alguém com cicatrizes. Espero alguém que me venha pedir a cura de suas máculas e lembranças - e que ajudando-a eu possa me curar das minhas máculas. E das minhas lembranças. 

Espero alguém que saiba o valor das coisas. Que tenha consciência da vida. Que possua qualidades esquecidas. Espero alguém que se sinta fora do eixo. Espero um ponto fora da curva. 

Espero alguém que tenha pressa de amar, mas não tenha pressa de envelhecer ao meu lado - que aproveite os instantes consciente que em sua fugacidade eles são eternos. 

Espero alguém que careça de proteção, de cuidados, de ajuda. Espero alguém que eu possa socorrer. Espero alguém que me abrace e encha a minha camisa de lágrimas. 

Espero alguém que perca as palavras e fale com os olhos aquilo que as letras e as sentenças não podem traduzir.

Espero alguém que chore e me peça consolo.  

Espero alguém que me ame, mesmo quando eu mesmo não o fizer. 

Espero alguém. Só isso. 




Obs. texto inspirado na crônica "Venha, por favor", de Fabrício Carpinejar.

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