ESCRITOS

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Avenida Paulista

  



   Começo 2015 com um livro terminado. Trata-se  de Avenida Paulista [ Editora Record,  286 páginas] do célebre João Pereira Coutinho. Não poderia ter começado o ano de melhor forma. A minha admiração pelo autor já é conhecida. O estilo do português - João, como evidencia o nome, é lusitano - é singular e inspirador. Ora com o humor afiado, ora com argumentos fortes, ora com um tom melancólico, o autor fascina do começo ao fim. 

   O livro é uma coletânea de textos publicados na Folha de São Paulo entre 2005 e 2008. Neles encontramos de tudo: futebol, política, amores, cinema. Flexibilidade contumaz de um intelectual de boa estirpe. 

   No entanto, o que mais ficou na minha cachimônia foi uma pequena história que Coutinho nos revela nas últimas páginas. Segundo escreve o autor, era idos de 1939 e a Europa caminhava rumo à guerra. Um pai do interior de Portugal resolve não arriscar e toma a decisão: mandará o seu filho para o Brasil. Assim ele não sofrerá os males que estavam por vir. 

- Filho, escuta, você irá para o Brasil em um navio. Chegando lá procure um tal de Vieira. Não sei o primeiro nome, nem onde mora, sei apenas que reside em São Paulo. Um dia eu o ajudei e ele irá ajuda-lo. 

   E o mancebo partiu rumo à falta de rumo. Desembarcou em Santos e tomou um carro para São Paulo. Chegou. Cidade agitada. E o desassossego que a agitação invoca. O moço não sabia para onde ir. Seguiu a multidão. Numa esquina qualquer avistou "Livraria Lusitana". Sabia - ou ao menos imaginava- que lá tinha pelo menos um português. Eis a sensação de ter alguém de casa por perto quando estamos longe. Entra. Conta a história para o sujeito da livraria. E o sujeito da livraria, pasmem, era o tal do Vieira. 

   O moço, hoje, deve ser um senhor. Se é que não faleceu, já que o livro data de alguns anos atrás.

   João é um ótimo autor, inspirador, dono de uma escrita simples e acessível. Recomendo fortemente e sonho poder um dia ter a capacidade de expressar ideias que ele tem. Por enquanto, permaneço treinando. E que comece 2015 com muitos bons livros como Avenida Paulista!